Estradas tem um quê inerente de aventura, de viagem, de gosto de liberdade, de poeira levantada, de buraco, de regulagem na suspensão e de conta no lava a jato depois.

Mas a gente adora. E se a estrada ainda vem acompanhada de muita história, melhor!

E a Transpantaneira tem bastante disso. Ô se tem.

Por isso, contamos aqui para vocês um pouco do que é conhecer essa estrada, que por si só já é um passeio e uma viagem dentro da sua viagem. E o destino? Ora, é o Pantanal! Ora, qualquer que seja a sua parada, ela certamente será impressionante!

Só vale investir num 4X4: porque as melhores histórias, assim como as estradas, só se revelam quando o asfalto termina…

O exato ponto onde o asfalto vira terra é quando a verdadeira viagem começa…

 

Mas na verdade, antes mesmo de chegar à Transpantaneira propriamente dita, já dá para conhecer muita coisa interessante no caminho. Ou mais especificamente, à margem dele: a estrada que liga Cuiabá a Poconé (cidadezinha que é a porta de entrada do Pantanal) é recheada de pés de caju e bocaiúvas perto do acostamento. Se você estiver de carro, ou se o seu guia for gente boa, dá para fazer várias paradas no caminho, daquelas rapidinhas só para pegar a fruta do pé – que é sempre mais gostosa!

A própria bocaiúva (fruto redondinho e amarelinho) é típica da região, tanto que é chamada de “chiclete” cuiabano. Para ir mascando e entrando no clima mato-grossense.

Embora, sejamos francos, eu não curti muito a fruta não….

Só para dar uma ideia de como é a estrada, a chegada à Transpantaneira, e de quebra ainda mostrar uma brechinha do Pantanal só para dar o gostinho,  fizemos este humilde vídeo, com direito a trilha sonora do Almir Sater. Liga o som, aperte o play – e nos conte depois se você curtiu!

Transpantaneira – Uma viagem dentro da viagem… from Dondeando por aí… on Vimeo.

O Pantanal do Mato Grosso tem várias vias de acesso (é possível ir pelas cidades de Cáceres e Barão do Melgaço) mas para chegar à Transpantaneira o caminho é pela cidade de Poconé, pequenininha e simpática, a poucas horas de viagem de Cuiabá.

Ah, em tempo: por favor, não cometa o deslize – para alguns, irresistível – de chamar o Mato Grosso do Norte para diferenciar do irmão Mato Grosso do Sul. É o tipo do erro que acontece mais frequentemente do que a gente imagina, e é feio: primeiro, porque o tal Mato Grosso do Norte não existe e você passa por desinformado. Segundo, porque o pessoal de lá não gosta. Combinado?

Mas se você for por Poconé, para pelo menos para tirar uma foto da simpática igrejinha da cidade: é de um azul e branco tão intensos que chegam a rivalizar (ou refletir?) a imensidão azul do céu do nosso Centro-Oeste. Coisa bonita de se ver.

A simpática igreja de Poconé – MT sinaliza a porta de entrada para o Pantanal Mato-Grossense

 

E vamos chegando na Transpantaneira… Que, para quem não sabe, tem algumas peculiaridades interessantes:

  • Foi construída na época do “milagre econômico“, ao seja, mais ou menos no mesmo tempo (e com o mesmo frenesi) que obras enormes como a Transamazônica e a Ponte Rio-Niterói;
  • Foi desenhada para ter mais de 300 quilômetros, mas acabou com os 145km que possui até hoje, não asfaltados – porém muito bem vividos;
  • Possui 125 pontes de madeira ao longo da sua extensão, o que faz com que seja considerada uma das estradas com maior número de pontes do mundo (considerando a proporção com  a sua extensão);
Só que aí, depois da sua construção, aconteceu uma coisa interessante: descobriram que a área aterrada usada para fazer a estrada tinha uma enorme capacidade para reter a água das cheias, formando uma série de lagos pequenos nas encostas da estrada, e com isso se tornando um refúgio de tuiuiús, jacarés de papo amarelo, capivaras, entre outros animais.
A estrada de barro virou uma eco-rodovia. Melhor do que muito simba-safári chique por aí…

E ali, vale a pena dirigir com um olho na frente e outro na janela. Porque a vista lá fora é uma riqueza só…

Uma vista constante da janela são os jacarés e tuiuiús em harmonia. Faça um teste com o seu olho clínico: quantos jacarés você vê na foto?

Vale lembrar que o Pantanal é cheio de donos: ou seja, cercas de arame separam a estrada das fazendas. E, no meio delas, andando de lá para cá, estão os animais.

Atenção ao trânsito: na Transpantaneira, a estrada não é só sua!

Ou, ainda, no meio da estrada. Por isso, é preciso ter cuidado na direção e ir devagar (embora, bem… os próprios buracos farão isso por você).

Mas sem medo:  ali são os bichos que se assustam com frequência e correm mais risco de serem atropelados ou coisa parecida.

E, infelizmente, isso acontece bastante também. 

Mas se você tiver alguma hospedagem reservada em uma das fazendas, é interessante para ver um outro ângulo do Pantanal. Mas se não tiver, não tem problema: só não deixe de espiar por entre uma cerca e outra: da própria estrada, dá para fazer alguns “flagras” como estes:

Raposa
Ema dando um “confere” nos visitantes antes de beber água nas margens da Transpantaneira

 

Duas dicas importantes ao viajar pela Transpantaneira:

A estação da seca é uma boa para viajar : vai de maio a final de outubro. Importante frisar que as duas estações são bem distintas uma da outra, e seja qual for a estação que você escolha, é um Pantanal completamente diferente que se vê. Mas, verdade seja dita, na estação seca existem menos atoleiros (por razões óbvias). E menos mosquitos (idem).

Experimente passar pela Transpantaneira em dois horários distintos: um ao meio-dia, com o sol a pino, e outro ao fim da tarde (pode ser uma viagem de ida e volta, por exemplo)… Mas por que? Porque com o sol a pino, tudo o que se vê nos lagos nas encostas da estrada são dezenas (mesmo!) de pares de olhinhos atentos, submersos no frescor da água e do pântano, olhando atentos para você (experimente contar quantos tem – é uma brincadeira interessante!). Já ao fim da tarde, com a temperatura um pouco mais amena, é quando é chegado o momento de revelar-se ao sol de tarde. E aí sim, é possível tirar a clássica foto de um Pantanal imponente e rústico, traduzido no tamanho, no silêncio e no porte dos numerosos jacarés que saem para as margens.

Uma natureza impactante que se revela silenciosa e impressionante aos olhos, fazendo a gente ter orgulho de ter em nosso país um ecossistema tão rico – e entendendo na prática que não há zoológico ou parque de animais que supere a força e a beleza da natureza no modo “a vida como ela é”.

 

Outro flagra tirado da estrada. E de longe, por via das dúvidas. Nunca se sabe, né?

 

E aí só nos resta admitir que a expressão “beira de estrada” nunca mais vai significar a mesma coisa de novo…

 

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