Se muito da fama do turismo gaúcho vem do charme de Gramado e Canela, dos passeios pelas vinícolas e pelas trilhas em torno dos cânions de Aparados da Serra, poderia se dizer que uma parte importante da história do Rio Grande do Sul está, também, em uma experiência. Quase mística, inclusive. Por isso, escolhemos a Rota das Missões Jesuíticas para fechar nossa série sobre estradas históricas para se conhecer de carro.

Tudo começou lá atrás, quando os jesuítas fundaram diversos aldeamentos chamados “missões” ou “reduções”, e tinham por objetivo principal a evangelização dos índios. Foram fundadas missões em vários pontos da América do Sul, e em especial na região sul, de domínio ainda espanhol, uma vez que ainda era válida a disposição territorial acertada no Tratado de Tordesilhas. Tais missões deram origem ao chamado “Sete Povos das Missões”, que compreendem as cidades de São Nicolau (1687), São Luiz Gonzaga (1687), São Lourenço Mártir (1690), São João Batista (1697), Santo Ângelo (1706), São Miguel das Missões (1687) e São Francisco de Borja (1666).

 

Tais povoados eram autossuficientes. Ou seja, sua produção era organizada num regime semelhante ao feudal, com famílias cultivando terras e doando parte da produção a “Deus”.

 

As missões existiriam até meados do século XVIII, quando foram expulsas pelas coroas portuguesas e espanholas que também disputavam as terras da região. O resultado foi uma guerra sangrenta, que também acabou por dispersar ou capturar os índios da área.

 

Histórias tristes à parte, vale ressaltar que o que ficou dos Sete Povos sulistas foi um legado precioso em termos de relíquias arquitetônicas e artísticas, hoje consideradas Patrimônio da UNESCO, e tombadas pelo IPHAN. Sem falar, é claro, na forte cultura guarani, presente no artesanato e na música produzidos por alguns representantes das aldeias.

 

 

Curiosidade: ao visitar as ruínas, repare que muitas das relíquias e estátuas religiosas esculpidas na região tinham leves traços indígenas, prova da influência e do convívio entre os jesuítas e os guaranis.

 

 

 

Hoje as rotas jesuíticas ainda carregam bastante do lado religioso, sendo muito procurada por peregrinos, que aliam a experiência religiosa da caminhada, ao auto-conhecimento e à contemplação. Seria uma caminhada a là “Santiago de Compostela” brazuca, mais curta que a versão espanhola, porém igualmente rica em paisagens maravilhosas para deleitar a vista e o espírito.

O Caminho das Missões hoje tem aproximadamente 180 km que podem ser percorridos a pé ou de carro, e passa por alguns dos sete povoados que abrigavam as missões, trilhando os mesmos caminhos por onde passavam os peregrinos de antigamente. Logo, preparem os olhos para uma paisagem salpicada de casas centenárias (muitas vezes contruídas com pedras retiradas das ruínas), moinhos, velhas igrejas.

 

Existem ainda quatro sítios arqueológicos que valem a visita:

 

São Miguel Arcanjo – De todos, o mais famoso por ter as ruínas em melhor estado de conservação. Dali pode se ver como a complexidade e variedade das instalações, como as casas dos índios e as instalações dos padres, a igreja, as áreas de circulação. É ali que fica, ainda, o Museu das Missões, que definitivamente merece uma visita.

À noite, tem o circuito do som e luz – válido para dar um uma aura a mais na história do lugar.

Horário: de 9 às 17 horas

Valor: Adultos pagam R$ 5,00 e estudantes/idosos pagam R$ 2,50

Mais informações: http://www.saomiguel-rs.com.br/Turismo/

 

São João Batista – Foi construída por habitantes do povoado de São Miguel Arcanjo, que já encontrava dificuldade para abrigar tantas pessoas. Ainda é possível ver nos sítios arqueológicos o cemitério do povoado, bem como as estruturas como olaria, barragem. Uma curiosidade: o padre fundador, Antônio Sepp, era músico. Por isso, ele introduziu a metalurgia nas missões, fazendo instrumentos de toda a espécie. Sua obra-prima foi o sino da cidade.

Horário: de 9 às 17 horas

Valor: Entrada Franca

 

São Lourenço Mártir – Também possui ainda algumas ruínas para visitação, e chegou a ter mais de seis mil habitantes.

Horário: de 9 às 17 horas

Valor: Entrada Franca

 

São Nicolau – Esta aldeia sofreu vários revezes, causados tanto pelos ataques constantes dos bandeirantes para captura de índios, como por um grande incêndio que destruiu parte da cidade. Mas foi reconstruída repetidas vezes, muito com a ajuda de índios extremamente habilidosos em artes manuais, que produziam pinturas e esculturas em madeira. Esta missão chegou a ter mais de 7 mil pessoas em suas terras, e até hoje são feitas várias pesquisas arqueológicas neste sítio.

Horário: de 9 às 17 horas

Valor: Entrada Franca

 

Como são muitos os peregrinos, as cidades possuem uma estrutura suficiente para acomodar os turistas, bem como diversos guias que explicam um pouco da história. São realizadas visitas guiadas, mas o Sítio de São Miguel Arcanjo possui guias à parte.

 

E mesmo quem não tem uma veia tão religiosa assim pode curtir muito o passeio, uma vez que a rota das Missões possuem várias outros atrativos – inclusive a gastronomia gaúcha que, bah tchê, é deliciosa! Por exemplo, Santo Ângelo, que também faz parte da rota, é conhecida por ser a “Cidade das Tortas”, devido a uma associação entre as empresas produtoras de pão, vinho, bolos e chocolates na região. O que é extremamente válido para recarregar as energias depois de uma viagem de estrada – ou simplesmente para endorfinar os sentidos e apaziguar a gula no friozinho gaúcho.

 

Fora, é claro, a natureza. O Rio Grande do Sul tem paisagens maravilhosas, á disposição para serem percorridas de carro, de bicicleta ou, como um bom peregrino, a pé. Caso você seja um entusiasta do último tipo, entre no site “Caminho das Missões” e veja ali as datas já agendadas para passeios em grupo. Já conhecer a região de carro é bem fácil e pode ser feito tranquilamente. Dirigir pelas estradas entre as missões é um convite delicioso a uma contemplação.

 

Contemplação, aliás, é a palavra-chave desse roteiro. Seja da natureza, das ruínas ou simplesmente da história gaúcha, a Rota das Missões possui uma certa aura de paz. Aura essa que pode vir do misticismo religioso próprio das missões que já houveram ali. Ou talvez da própria história da região, já cansada de tanta guerra. Ou, quem sabe, da natureza, que alheia à história de índios, jesuítas ou bandeirantes, ainda presenteia a região diariamente com um pôr-do-sol arrebatador. Ou, ainda, vêm das ruínas, que são provas presentes de um tempo que já passou faz tempo e que esse, sim, é inexorável.

Ou, talvez, é a mistura de tudo isso num lugar que preserva uma história, uma cultura e uma beleza toda própria. E são roteiros assim, que transcendem o lugar e o tempo em que estão, que fazem a delícia de quem quer viajar de verdade.

 

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Comments

2 COMENTÁRIOS

  1. Clarissa, boa noite!
    Gostei das dicas que vc mencionou aqui.
    Vou com minha esposa e duas irmãs fazer esse caminho em março próximo.
    Queria fazer a pé, porém uma das irmãs não tem condições de caminhar tantos km.

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