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“E na programação de hoje está incluída uma visita à um museu de artes tradicionais e venda de esculturas de madeira típicas da região”.

Confesso que fui logo pensando “lá vem, passeio chato que empurram a gente só para comprar”. Com direito àquele revirar de olhos e tudo.

Mas se você fez o mesmo só de ler essas primeiras frases, segure a onda. Continue. Depois melhora, juro.

Porque foi com esse espírito que eu entre na Jobin, na cidade de Brienz, Suíça.


Só para situar: Jobin é uma empresa que existe desde os idos de 1835 ali, naquele cantinho (só para constar, fica perto da Brungasse, uma das ruas mais antigas do país. E, a considerar as casas vizinhas, os natos de 1835 são praticamente um broto). E, de lá para cá, vem se especializando na escultura de objetos em madeira, um tipo de arte típica da região.

Os mais 170 anos de experiência no assunto tornaram a casa a referência e escola para aprendizes da arte em toda a Europa (e até de algumas partes do mundo), que vão para lá aprender as técnicas.

E, mesmo que escultura em madeira não seja muito a nossa praia em termos de decoração, é inegável admitir que os caras entendem do assunto. Basta dar uma olhada nas obras expostas na recepção.

Repare: este javali, em tamanho natural, foi esculpido em uma peça única de madeira. Vale prestar atenção nos mínimos detalhes da peça.

A casa é especializada em três grandes tipos de trabalho: escultura em madeira, produção de caixas de música (aquelas fofinhas e antigas, com bonequinhos e movidas a corda) e relógios-cuco. Todas de madeira, claro.

Contra todas as minhas expectativas, o passeio à Jobin não é focado na visita à loja, nem na compra dos produtos. O foco é em um tour pela empresa, que inclui as áreas do ateliê de montagem e, principalmente, em um museu que eles mantém no segundo andar, com peças desenvolvidas ao longo dos tais 170 anos de experiência. A loja é a última parte, e a compra, idem. Tudo sem esforço – porque eles acreditam que isso vai acontecer, invariavelmente, após o visitante conhecer o cuidado com que as peças são produzidas.

E eles conseguem. Por isso, esqueça a vontade inicial e irresistível de desistir do passeio. Visitar Jobin é quase um tour de convencimento e história. A ordem é “deixar-se levar”.

O tour começa no ateliê de produção, onde vemos os funcionários e aprendizes da casa.

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De cara, já percebemos uma típica característica suíça, que permeia todo o passeio no país: a gente descobre o porquê do fato de que um mesmo país, pequenininho do jeito que é, estão os melhores chocolates, os melhores relógios, os melhores bancos, os canivetes idem…

O mérito é das pessoas. São meticulosas, dedicadas. Mas, acima de tudo, apaixonadas pelo que fazem.

É visível. É palpável. É apaixonante ver o zelo com que um suíço trabalha e fala do seu trabalho.

Por isso, vale a pena conhecer e reparar nesse detalhe. Isso vai dizer mais do país do que ler 30 livros sobre a Suíça.

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Quem os leva é ninguém menos que o proprietário, Flavius Jobin, um rapaz apaixonado pela casa e pelo negócio da sua família.

Fica a dica: se der, peça para reservar o tour com ele. Porque paixão tem dessas coisas: é de um contágio vagaroso, e faz alguém que nunca curtiu a vibe de colecionar bibelôs de madeira, sair absolutamente apaixonado por um. 

Você começa visitando o centro de montagem das peças que estão sendo elaboradas no momento, e se der sorte, pode ver a montagem da mecânica de um relógio cuco. Tudo artesanal, obviamente.

Montagem de um relógio cuco. O silêncio e a concentração é tão grande que até nosso mais leve movimento parece um estrondo.

O bacana ali é, mais do que ver as peças, testemunhar a concentração dos funcionários. Este da foto abaixo, por exemplo, está trabalhando na encomenda de uma escultura, em tamanho natural, de um político importante (esse da foto). Uma encomenda desse porte leva 2 anos para ser produzida, porque primeiro é feito uma espécie de modelo na metade do tamanho, para a partir daí então ser reproduzido com as dimensões finais.

A atenção é máxima: uma lasquinha tirada errada e o trabalho de 2 anos vai madeira abaixo.

Segundo o dono, esta peça está na metade do seu prazo de produção. Sim, porque o rosto é a parte das difícil e demorada.

Detalhe do rosto, ainda a ser esculpido. Mais um ano de labuta aí!

Detalhe: a peça encomendada é um presente. O homenageado em questão nem sabe de sua existência.

 Muito menos de que seu rosto foi minuciosamente estudado por dois anos, por um total desconhecido, de forma contínua e exclusiva. Me diga aí se esse trabalho não é muito amor?

Mas o forte mesmo da casa não são réplicas de pessoas. E sim, de ursos. Vários ursos, em todos os formatos, estilos, expressões e mobiliários.

Escultura de um urso em um porta guarda-chuva. Ursos são o xodó da casa.

E é chegando no museu, no segundo andar, que a gente descobre que a paixão por urso é coisa séria.

Cada peça (que não está à venda) é iluminada, registrada, etiquetada e exibida com ares de obra de arte. Que, cá para nós, são mesmo.

 “Ok, mas por que ursos?”, você me pergunta. E eu faço o mesmo. Primeiro, é o animal que ilustra o brasão da região de Bern, onde fica a cidade de Brienz (diz a lenda que o fundador de Bern resolveu que ia nomear a cidade com o nome do primeiro animal que visse, quando um urso passou todo coquete por lá). Também pode ser porque na região era comum a manutenção de ursos vivos por criadores locais. Mas, especialmente para os escultores de Jobin, o urso é um animal que pode ser facilmente “humanizado” com expressões divertidas, sérias, de trabalho, praticamente imitando gestos e atos humanos. Não por acaso, o urso está muito presente no imaginário das  histórias populares contadas para criança, praticamente gente como a gente: com casa, família, trabalho e até roupas.

Confesso para vocês que nunca tinha pensado nisso. Mas não é que a gente lembra do ursinho Pooh e de repente isso tudo faz sentido?

E aí são estes mesmos ursos que apresentam para a gente as obras de arte da casa. E, como eu disse, mesmo que esculturas e móveis com ursos esculpidos estejam longe da nossa “wish list” de decoração, não tem como não reconhecer que os caras são uns artistas. Porque esculpir na madeira, galera, não é mole não…

Dica: repare nos “nós” e veios da madeira, esculpidos um a um.

Conjunto de mesas e cadeiras do Museu de Jobin. Curiosidade: não estão á venda, pelo contrário: pertencem a uma família suíça tradicional e orgulhosa das suas peças, que gentilmente emprestou o conjunto para o acervo do museu

Eu não levaria para casa. Nem você, provavelmente; mas esse móvel aí embaixo ganhou o meu prêmio “hors-concours” de dedicação. As portas (cada uma, em uma peça única de madeira) foram esculpidas com absoluta e delicada riqueza de detalhes. E em alto-relevo – a técnica mais complexa de trabalho.

Momento história:  Mas tem gente que gosta, e muito, de urso de madeira. Tanto que, exibido com destaque numa área do museu, está esta peça, japonesa, logo abaixo. Diz a história (contada com um sorriso maroto pelo proprietário), que lá no saudoso verão de 1922, um nobre japonês chamado Yoshichika Tokugawa passeou pela Suíça com sua esposa (inclusive, registros contam que ele viajou de barco com um cara chamado Albert Einstein, não sei se vocês já ouviram falar. Enfim.) Na época, ele visitou a empresa e ficou encantado com as esculturas de madeira produzida pelos artesãos dali, e levou alguns exemplares para sua terra natal, Hokkaido, no Japão. Então, com a vinda do inverno japonês e a crescente pobreza dos camponeses da região, que não podiam plantar devido ao clima, o senhor Yoshi chamou a população e pediu que os camponeses se dedicassem a reproduzir tais peças em madeira, que ele as compraria depois – era uma maneira de fomentar e desenvolver a economia local, sofrida.

A coisa foi evoluindo, Hokkaido foi crescendo e hoje é um dos pólos reconhecidos em todo o mundo como  o berço japonês das esculturas de madeira, tradicionais no país. “Mas que poucos sabem, no próprio Japão, que tudo começou com uma visita aqui”, comenta o dono. Comemorações discretas e profundamente orgulhosas – típica coisa de suíço.

Taí o urso japonês, para comprovar: um presente de Hokkaido para Brienz. Discípulos e mestres, hoje, de igual para igual.

E as caixinhas de música??? Oh, estas são fofas – delicadas como aqueles relicários que a gente tão acostumadamente via nas histórias de crianças antigas e contos de época. Várias são reproduzidas na sala do museu – como esta, de tamanho gigante, quase um piano.

As músicas tocadas, em geral, são típicas canções suíças, cujas notas são produzidas pelo contato destas minúsculas hastes de metal que, giradas nesta coluna, encostam no “pente” de metal e produzem um som. Para quem produz, é a pura matemática da música. Para nós, uma engenhosidade quase mágica.

E, finalmente, na loja existem várias pequenas peças, delicadas, à venda. Como todos os passeios deste tipo, é deixado para o final, mas vale circular tranquilamente – até porque os vendedores não ficam em cima. E a gente, que antes só via bibelôs de madeira, começa a enxergar pequenas obras-primas acabadas, delicadas – e, sobretudo, feitos com um amor que a gente mesmo testemunhou.

Particularmente, gostei dos relógios-cucos. Uma parede enorme ao fundo da loja abriga diversos modelos, e a sensação é a de estar entrando na oficina do Gepeto. Fofo, fofo!

Ah, mas o passeio acaba aí só se você quiser. A Jobin organiza – e eu achei isso muito interessante – pequenos workshops de arte em madeira, desenvolvidos especialmente para visitantes. Empresas costumam contratar o serviço para atividades em grupo com seus funcionários, para estimular a concentração – “é impressionante como você assiste a chegada de vários grupos de homens ruidosos e barulhentos, gerentes de alta hierarquia com operários, ficarem juntos em absoluto silêncio, esculpindo pequenas peças de madeira”, conta Flavius. “É uma terapia”.

Mas visitantes tradicionais e até crianças são bem-vindos. Peças brutas de madeiras, estiletes, tintas e pincéis, assim como outras ferramentas, são colocadas à disposição e o trabalho é supervisionado por um profissional. É preciso agendar a atividade, realizada em grupos (preços e descrições das atividades encontram-se aqui).

Fazer um workshop de madeira, esculpindo e pintando sua própria peça: é ou não uma atividade interessante para fazer com as crianças pequenas? Elas são bem-vindas também!

Em média, os workshops levam duas horas, mas horários especiais podem ser combinados – embora, segundo o dono, o tempo voa durante as atividades.

E para ajudar no poder de convencimento, junto com o workshop é serviço um “lanchinho básico”, com o autêntico queijo suíço e vinho. Que, como tudo que é feito na Suíça, não precisa de credenciais para sabermos que é uma delícia.

Escultura de uma vaquinha suíça. Ao final do workshop, os visitantes levam a peça para casa. Crédito da Foto: Divulgação Dobin

Os preços  de entrada com o tour em alemão, inglês, francês ou japonês (isso mesmo!) estão aqui. Mas entrar lá com a pior das expectativas e sair encantado, não tem preço.

 

Esta jornalista e blogueira que vos fala visitou a cidade de Interlaken em junho de 2012, a convite do Escritório de Turismo de Interlaken, da Jungfrau Railways e do Hotel Krebs.

Comments

2 COMENTÁRIOS

  1. Gostaria de saber como avaliar uma caixa de musica de aproximadamente 150 anos de idade, em perfeito estado de funcionamento, totalmente original em toda mecânica, pintura e caixa de madeira. Fabricada possivelmente na Suíça ou na França.

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