Nem tudo que reluz é ouro, mas cabe uma honrosa exceção ao Douro, em Portugal: diz uma das lendas que o nome veio de “d’ouro” devido à bela vista das águas reluzentes do rio quando o sol estava forte. Outros dizem que o “d’ouro” vinha de pepitas de ouro encontradas no rio e há quem diga ainda que o nome não vem de “d’ouro”, mas sim de “duro”, adjetivo que melhor descreve o relevo escarpado cheio de curvas do rio.

Não há um consenso. Mas que o Douro reluz, isso é verdade. Em luz e em vinhos, indiscutivelmente uma das atividades que mais contribui para a economia local e para o nosso bom gosto pelas coisas boas da vida.?

Quando estávamos planejando a viagem de carro pelo Norte de Portugal para fazer a Rota do Vinho Verde, minha amiga Sara me convenceu a acrescentar mais dois dias  no nosso roteiro para fechar a viagem com uma linda chave de ouro pela região vinícola do Douro (ou, como os portugueses chamam, o Douro Vinhateiro).

Não que eu precisasse de muito para ser convencida, né?

A verdade é que no fim das contas o roteiro ficou redondíssimo em termos de tempo e estradas, e permitiu combinar numa viagem só duas regiões de vinho fantásticas, com paradas bem aproveitadas em vinícolas espetaculares (em termos de vinho e de vista) e aproveitar paisagens assim! ?

O Douro desemboca na cidade do Porto, mas definitivamente a parte mais bonita dele fica mais para o centro do país, especialmente entre as cidades de Peso da Régua e Pinhão – é onde estão boa parte das vinícolas produtoras dos vinhos do Douro,  e que dão aquele toque lindo das encostas do rio cheio de terraços de vinho por todos os cantos. Optamos por focar a visita nessa parte, até porque havia por ali três vinícolas premiadíssimas que nós queríamos visitar (e o Hotel Vintage Douro, romantiquíssimo e super às margens do rio).

Dá para fazer um bate e volta no Douro em um dia só, mas eu realmente recomendaria dois – as vinícolas são fantásticas e merecem ser visitadas com calma, e dormir lá é charme puro. Além disso, dá para combinar lindamente com uma visita a Amarante ou a Guimarães no dia seguinte, ou vice-versa. Vou explicar nesse post como foi o meu roteiro – que já adianto, foi uma das experiências mais charmosas que já tive aqui na Europa! 🙂

Veja também: O que fazer em Amarante: mais que um pit-stop entre o Douro e Guimarães

[vc_message message_box_color=”grey”]Com pressa? Vá direto ao ponto:

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Como chegar ao Douro Vinhateiro

Dá para chegar na região vinícola do Douro de várias formas, e todas são válidas porque  permitem apreciar o Douro de ângulos diferentes:

  • Vindo de carro direto do Porto, margeando a estrada;
  • De barco, aproveitando a vista das margens;
  • De trem, pegando a linha de trem de Porto a Pocinho (ela passa por Pinhão, que é um trecho bem bonito). Já foi eleita pela Fodors uma das mais belas rotas de trem do mundo.
  • “Dando a volta”, ou seja, alugando um carro em Porto e visitando outras cidades para chegar ao Douro no final. Foi o que eu fiz.

Super recomendo a última opção: havíamos ido primeiro para a Melgaço e depois fomos descendo fazendo a Rota do Vinho Verde, chegando ao Douro via Amarante, que é uma gracinha de cidade. Foi uma viagem redonda e cheio de paradas, de modo que não cansou ficar dirigindo e fomos aproveitando muito tudo no meio do caminho.

Dica: Mas se você não quiser ir até lá em cima, combine com uma ida de Porto a Guimarães, depois a Amarante (dica: pernoite por lá) e no dia seguinte siga para o Peso da Régua, já no Douro.

Os trechos em verde são das regiões vinícolas de Melgaço e Monção, Ponte de Lima e Amarante, que fazem parte da Zona produtora do Vinho Verde (repare nos ícones marcando as vinícolas e docerias que visitamos). Já o trecho em vermelho é a região do Douro. É facinho combinar as duas!

Para quem vem direto do Porto:

De carro: Ir de carro é a opção que eu mais recomendo, pela liberdade de poder parar em todos os mirantes lindos que rolam pelo caminho! A estrada mais cênica de todas que merece ser percorrida com calma é a N222. A forma mais rápida de ir a partir do Porto é pegando a autoestrada A4, mudar para a A24 na altura de Vila Real e pegar a N222 em Peso da Régua (essa viagem leva em torno de 1 hora e 40 a 2 horas dependendo do trânsito da auto-estrada, e foi o caminho que eu fiz ao voltar para Porto). Mas é possível seguir por mais tempo pela N222 também, descendo da A4 por Marco de Canaveses.

Veja também: 4 dicas na hora de alugar um carro no aeroporto do Porto

De cruzeiro: A BarcaDouro oferece cruzeiros de um dia saindo do Porto até a Régua: valores vão de €57 a €67.

De trem: a linha de trem para o Douro é administrada pela Comboios de Portugal, e a viagem inteira saindo da estação de São Bento no Porto até Pocinhos leva em torno de 3 horas e meia. A rota é especialmente cênica entre a parada de Régua até Pocinho, com alguns momentos do trem andando bem rente à água. Cada perna de ida e volta custa entre €12 a €14,55 (preços de 2017) dependendo do horário. Veja horários de saída do trem aqui ou compre direto o seu bilhete de trem pela Comboios de Portugal.

Eu não fiz e gostaria de saber a opinião de quem fez – se você foi, me conta nos comentários? 🙂 Eu imagino que deve ser uma rota linda pela experiência, mas talvez não seja a melhor opção para fazer num dia só, por exemplo. Opiniões sobre isso são bem-vindas! 🙂

De tours: Um tour de um dia que vai do Porto até Amarante e vai passando pelo Douro (inclui almoço e guia) custa €95 adulto e podem ser comprados pela TicketBar aqui.

Para quem vem de Amarante

Essa foi a nossa opção: nós estávamos hospedadas no Monverde Wine Experience Hotel em Amarante (um lugar que super indico para os amantes de vinhos) e partiríamos de lá para explorar o Douro.

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Como tínhamos apenas dois dias para explorar o Douro (estávamos indo à trabalho), tentamos agendar os horários em cada vinícola de modo que nossas visitas acabassem bem redondinhas e não nos fizessem rodar tanto. Não, deu, infelizmente, por questões de agenda – mas isso nem chegou a ser um problema muito grande, já que percorrer a lindíssima N222 mais vezes não foi exatamente ruim! 😉

Uma coisa legal é que de Amarante seguimos para Sabrosa, onde fica a Quinta do Portal (uma vinícola premiadíssima que vale a visita) e seguimos para Pinhão, onde pernoitamos. A vantagem disso foi que pudemos pegar a estrada Sabrosa-Pinhão, que apesar de não ser margeando o rio, tem também vistas rurais bem bonitas.

Como esta foi a rota que eu fiz, descrevo melhor os detalhes dela a seguir.

Como são as estradas do Douro

Poucas viagens foram tão silenciosas quanto a que fizemos dirigindo pela N222: é uma sensação de ter um “oh” estupefato na garganta a cada curva.?

Fui no outono, em outubro, o que fez tudo ficar especialmente mais bonito com as cores avermelhadas da estação. Porém, também peguei bastante chuva, de modo que eu imagino que a melhor época para percorrer essa estrada é nos meses se agosto e setembro, com dias ensolarados e, especialmente no fim de setembro, vindimas acontecendo pelas encostas!

Mas fica um alerta, porém: a estrada é lindíssima, mas bastante sinuosa (já que acompanha o leito do rio em vários trechos) e com apenas uma pista em cada sentido. Algumas curvas são estreitas. E, claro, volta e meia tem caminhões (a Sara, minha amiga portuguesa, já tinha comentado que caminhoneiros portugueses são “bullys”). ?

Enfim, isso é só para dizer para manter um olho na paisagem e outro na estrada.

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Outra dica: quem estiver no banco do carona pode estar com uma câmera à tiracolo para tirar foto da janela, ou nas paradas nos diversos mirantes do Douro. São paisagens apaixonantes!

Eu recomendaria, inclusive, agendar visitas em quintas que tenham uma bela vista do rio, nem que seja para admirar a paisagem lá de cima. Você vai ter também a experiência de subir por estradinhas bem íngremes para chegar ao topo dessas vinícolas (essa da foto de baixo, por exemplo, era na Quinta do Pôpa). É uma vista lindíssima também! ?

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Um alerta para quem for dirigir vindo de Amarante:

O trajeto entre Amarante e Vila Real passa por um túnel que corta a serra do Marão. Segundo a Sara, minha amiga portuguesa, essa tunel foi uma bênção, economizando horas no acesso entre uma cidade e outra, já que o caminho antigo obrigava os motoristas a percorrerem estradas sinuosíssimas por toda uma serra que nao é nada amistosa, especialmente em dias de chuva.

De fato, o túnel é uma bênção para quem dirige, mas a sensação nada amigável continua lá nos dias de chuva. Nós dirigimos de manhã porque sabíamos que este trecho poderia ser esquisito, e estava chovendo bastante. Bem, uma tempestade acompanhada de neblina caiu enquanto nós atravessávamos a serra e, apesar de no túnel ser tudo tranquilo, sair dele é entrar em uma tensa viagem: andávamos a 30km por hora, com visibilidade de um pouco mais do que dois metros à frente. Já era a descida da serra, e o freio do carro patinava nitidamente pela estrada (que recebe muitos caminhões, e dava para ver o óleo pelo chão).

Enfim: fica o alerta de checar a previsão do tempo antes de pegar este trecho, e evite fazer a serra do Marão à noite!

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Como foi o roteiro de dois dias pelo Douro

Nosso roteiro foi corridíssimo, de apenas dois dias, mas qaté que achei que foi bem amarrado, no fim das contas:

Dica: eu acrescentaria pelo menos um pernoite a mais no Douro, nem que fosse para curtir melhor os hotéis da região, que são merecidíssimos, ou para explorar as quintas com calma mesmo. Há opções charmosíssimas para se hospedar em Pinhões (com a vista para o Douro) ou em Sabrosa (no melhor estilo turismo rural, em casarões lindíssimos). Descrevo mais opções disso a seguir! 🙂

Além dessas vinícolas, dá para visitar ainda a Casa de Mateus (um belíssimo casarão em Vila Real, no meio do caminho entre Amarante e Sabrosa) e a Quinta do Crasto, outra queridinha entre quem visita o Douro, e que tem uma vista privilegiadíssima para o Douro.

Eu fui na Quinta do Portal, Quinta do Aneto e Quinta do Pôpa. Três quintas para morrer de amores!

Onde dormir no Douro

Hotéis em Pinhões (vista para o Douro):

Acho que parte da experiência de se viajar para o Douro é se hospedar perto dele. tem uma certa mágica em estar perto das águas e acordar com aquela vista imponente de vinícolas a perder de vista pelas encontas do rio, como se fossem as curvas de um tecido trançado de vinhos.

Poucos hotéis, porém, oferecem esse privilégio tão de pertinho. E o que é mais bem localizado, nesse sentido, é o Vintage House Hotel, onde nos hospedamos.

A localização não poderia ser de mais intimidade com o rio: o hotel fica num casarão do século XVIII praticamente à beira do rio, em Pinhão (exatamente o trecho mais bonito). E todos os quartos, praticamente, dão vista para o rio… 🙂

A construção, que era originalmente uma casa do século XVIII, foi recentemente adquirida pelo grupo proprietário das casas de vinho do porto Croft e Fonseca, bem como do cinco estrelas Yeatman em Vila Nova de Gaia. Como era de se esperar, foi transformada num hotel 5 estrelas espetacular, e uma base sofisticadíssima para quem quer viver a experiência de vinhos pelo Douro. Por eles é possível organizar passeios de barco pelo Douro, ter acesso a degustações especiais nas adegas (completíssimas) da casa, visita às vinícolas, etc.

Os quartos são outra lindeza: com varandinhas voltadas para o Douro e uma pequena garrafa de vinho do porto de presente à nossa chegada!

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Um detalhe espetacular do hotel é a decoração dos salões, em cores vivas e para fazer qualquer amante de fotos no Instagram pular de alegria.

Dica: O restautante do Vintage House Hotel é o Rabelo, considerado um dos melhores restaurantes da região de Pinhões, especializado em pratos regionais e famoso por jantares espetaculares à luz de velas e piano – recomendadíssimo entre os casais. O prato obrigatório da casa é o galeto estufado recheado com alheiras.

Eu confesso que não jantei ali porque já estávamos nos últimos dias da viagem pela Rota do Vinho Verde e eu estava bem exausta de dirigir, de modo que eu capotei no quarto mesmo. Mas fica a recomendação! 🙂

Veja também: Opções de hotéis em Pinhão

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Hotéis em Sabrosa (turismo rural)

Uma opção linda de hotel que visitamos é a Casa das Pipas, que fica dentro da propriedade da Quinta do Portal. A quinta já estava na nossa lista a visitar de qualquer jeito por conta dos vinhos premiadíssimos da casa, e a Casa das Pipas foi aberta pelos proprietários da Quinta como uma possibilidade de combinar o enoturismo com uma experiência de hospedagem fabulosa.

Spoiler: eles conseguiram. Eu não me hospedei nesse hotel, mas como fomos almoçar e visitar a Quinta do Portal, aproveitamos para conhecer a estrutura de hospedagem.

E ó, morremos de amores.

A propriedade era um casarão antigo da família cercado pelas vinhas da família, e foi todo reformado para se transformar em hotel. A propriedade é toda familiar, o que dá um toque muito gostoso à experiência – é como se estivessemos sendo (muito bem) recebidos na casa de alguém). Os quartos são impecavelmente decorados (cada quarto é totalmente diferente do outro), com móveis de demolição ou mobiliário antigo da região, totalmente reformado. Tudo é de uma delicadeza só.

Particularmente, eu gosto de casas que contam histórias, de modo que eu curto bastante visitar propriedades que tenham sido, sei lá, um estábulo, e viraram uma residência, por exemplo, mas cuja construção ainda preserva traços do que foi um dia. Aqui na Europa tem muito disso, e eu acho lindo. Na casa das pipas, a casa era inicialmente um coche para manter os animais no inverno, e ainda é possível perceber traços da construção antiga na parede de pedras de uma das salas de estar.

Mas é só isso, mesmo: a estrutura da Casa das Pipas é totalmente envidraçada, com vista para as vinícolas da propriedade.

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Mas o mais encantador do hotel é mesmo o que está do lado de fora: a construção fica de frente para o terreno onde estão as vinhas da Quinta do Portal, de modo que a vista da varanda é privilegiadíssima. Além disso, há uma enorme piscina em frente à propriedade (e uma ao lado para crianças); nela, a vista previlegiada das vinhas é vista do ângulo das espreguiçadeiras (na minha opinião, bem mais interessante!).

Ah, atenção, casais: um lindíssimo gazebo fica entre as vinícolas ao lado da propriedade, e costuma ser usado para cerimônias intimistas de casamento e batizado. Eu realmente não consigo imaginar nada mais romântico!

Veja também: Opções de hotel em Sabrosa

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Onde comer no Douro

O ditado popular diz que “onde há fumaça, há fogo”, mas essa verdade pode ser adaptada a uma série de outras coisas ligeiramente mais relaxantes – algo como “onde há vinho bom, há comida boa”.

Embora, acho, Portugal dispense esse tipo de ditados: comida boa neste país é uma realidade onipresente.

Vários restaurantes ao longo do Douro oferecem ótimas paradas para comer. O DOC é um deles (fica no Cais da Folgosa, bem na estrada nacional 222) é um deles. Comandado pelo Rui Paula, já arrebatou uma estrela Michelin e vários prêmios internacionais. A Sara, minha amiga protuguesa que viajou comigo, recomenda o Casta e Pratos em Peso da Régua (Rua José Vasques Osório). Além, é claro, do Restaurante Rabelo, que fica no Vintage House Hotel em Pinhão ( Rua Antônio Manuel Saraiva, 4). Opte para ir nele no jantar.

 

Dessa vez, eu fui no restaurante da Quinta do Portal, que oferece almoço e você pode combinar com o tour à vinícola. Recomendo: a experiência é espetacular. ?

O restaurante tem as paredes envidraçadas, com uma vista belíssima para as vinhas da propriedade, e o menu é composto de um cardápio único que varia de acordo com a temporada. Inclui entrada (no nosso caso foi um creme delicioso de castanhas), prato principal (um robalo espetacularmente grelhado com purê de batatas e legumes) e sobremesa (panacotta com pera cozida em vinho moscatel).  Cada prato vem acompanhado de um dos vinhos da casa para harmonizar. Foi um dos lugares onde eu mais comi bem nesta viagem, também.

Dica do coração: por favor, experimente os moscatéis envelhecidos da Quinta do Portal. Para quem gosta de vinho de sobremesa, são espetaculares. Além disso, você pode comprar na loja da Quinta do Portal algumas garrafas a preços excelentes – eu trouxe um  moscatel de 10 anos para casa!

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Em tempo: o valor do menu fechado para almoço é de €40 por pessoa, o que eu acho um preço muito bom, considerando a comida e os vinhos espetaculares que acompanham. Crianças pagam €20, e quem se hospeda na Casa das Pipas tem desconto da refeição.

O restaurante fica na Quinta do Portal, em Celeiros do Douro, em Sabrosa. Eu aconselho fazer reserva: reservas@quintadoportal.pt.

 

Visitando as quintas do Douro

As duas quintas super populares entre brasileiros que vão para lá é a Quinta do Crasto e a Casa de Mateus.

Eu não fui a essas. Ao invés de visitar as quintas mais famosas, nós preferimos fazer o mesmo que tínhamos feito durante nossa viagem pela Rota do Vinho Verde: visitar vinícolas que obedecessem a pelo menos 3 dos 4 critérios abaixo:

  • Tivessem vinhos premiados recentemente;
  • Fossem geridas por famílias portuguesas (boa parte do Douro é controlado por grupos ingleses, que estão no negócio do vinho do porto há séculos. Nada contra, mas nessa viagem queríamos conhecer as “casas portuguesas com certeza”!).
  • Tivesse sido recomendadas por algum outro produtor renomado ou apresentassem uma proposta inovadora de vinhos;
  • E claro: se possível, tivessem uma vista linda!!!

Nesse caso, optamos pela Quinta do Aneto, Quinta do Pôpa e Quinta do Portal. Eis nossas impressões sobre elas:

 

Quinta do Portal, a quinta “boutique”

Celeiros Do Douro, Sabrosa

Apesar do tamanho (ela é gigantesca), a Quinta do Portal é um negócio familiar e ainda intimista, de certa forma.  Os proprietários abraçaram a experiência de fazer e viver vinhos como uma dedicação enorme, de modo que o resultado é uma quinta que oferece o combo completo: visita à vinícola, degustação, restaurante e hotel.

Nem precisa muito para ver que eles sabem claramente o que estão fazendo. Hoje a Quinta do Portal se autodemina uma “Vinícola Boutique” – e independente do que isso possa significar, se é coisa boa, é merecido. Eles são especializados em vinhos com denominação de origem controlada do Douro, vinhos do Porto e moscatéis espetaculares.

Em tempo: eles são abarrotados de prêmios e menções honrosas pelo Wine Enthusiast, Robert Parker, Wine Spectator. O vinho Quinta do Portal Grande Reserva 2011 ganhou o prêmio de mehor vinho do ano em 2016. Coisa pouca.

 

É possível visitar o armazém onde acontece o envelhecimento de vinhos, em barris enormes de madeira, e ter uma aula de como acontece a produção de vinhos do Porto, por exemplo. Arquitetos vão gostar de fazer a visita por um motivo especial: todo o complexo de visita e envelhecimento de vinhos também ganhou prêmios de arquitetura.

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Marcação de visitas:

O ideal é que as visitas sejam marcadas. Para fazer a reserva é só mandar um email para reservas@quintadoportal.pt (dica: tente combinar a visita antes ou depois do almoço no restaurante).

Horário de funcionamento para visitas: de 10:00 às 13:00 e das 14:00 às 19:00

Valor da visita guiada e da prova de vinhos: €7,50 por adulto

PS: Eu recomendo fazer compras na loja, que tem bons preços. Eu comprei um Moscatel Reserva Douro espetacular.

 

Quinta do Aneto, a inovadora

Quinta do Paço em Peso da Régua

Esta é uma quinta pequena e discreta – do tipo que a gente aqui no Brasil chamaria de “come quieto”.

Só que, sem alarde nem grandes publicidades, eles vem arrebatando um monte de prêmios nos últimos anos. Durante nossas pesquisas, a Quinta do Aneto tinha sido extremamente bem recomendada por pelo menos dois entendidíssimos de vinhos portugueses.

Então, cá viemos. E foi ótimo.

Assim como a Casa de Cello, que visitamos em Amarante, a Quinta do Aneto é simples e funcional – ou, como um português muito sério me descreveu, “sem espaço para mariquices”. São três andares pequenos, geridos por dois irmãos, com um único foco: fazer bons vinhos.

Por ser pequena, o proprietário fica atento a todo o processo de produção e tem procurado fazer algumas experiências. Uma delas – e o principal motivo pelo qual o Aneto foi tão recomendado – é um vinho da casa chamado Colheita Tardia.

Que, basicamente, é um vinho feito com uvas que passaram do seu ponto de colheita – ou seja, maduríssimas, quase podres, diríamos.

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Como fomos em outubro (a colheita deveria ter sido em setembro) chegamos a ver o pé onde elas estavam plantadas, e tirar a foto aí de cima. A idéia é que, passado o tempo de maturação, a uva vai desidratando (como uma passa, sabe?) o que ocasiona uma alta concentração de açúcar. Além disso, a colheita tardia e o clima chuvoso ao longo dos meses de outubro e novembro favorece o aparecimento de um fungo chamado Botrytis Cinerea, ou “podridão nobre”. Esse fungo aumenta ainda mais a desidratação das uvas e o aumento  da concentração de açúcar. Quando elas são finalmente colhidas, já em dezembro, produzem um mosto muito menor do que os das uvas colhidas 3 meses antes, porém muito mais espesso e doce, quase como um mel. O resultado disso? Deliciosos e raríssimos vinhos de sobremesa – para quem entende de vinhos, é um processo parecido com o do Sauternes, na França.

Eles possuem dois Colheitas Tardia: o normal (custa €10 euros) e o Colheita Tardia “S” (custa €25). O “S” é em homenagem à esposa do proprietário, é a inicial do nome dela. ❤️

Eu lembro, inclusive, de ter falado para o proprietário promover mais esse vinho e essa história. Sabemos que histórias de amor vendem. E com um vinho maravilhoso desses, nem precisa tanto esforço! 🙂

Os colheitas ganharam vários Great Golden Medals no prêmio Catavinum. Os tintos deles também são excelentes, e com menções no New York Times Wine Club.

Marcação de visitas:

Só é possível visitar sob marcação prévia: sobredos@sapo.pt

 

Quinta do Pôpa: a fotogênica

Estrada Nacional 222, Adorigo

O nome “Pôpa” já soa divertido, né? Pois então.

Tudo começou por causa de um cara chamado Francisco Ferreira, mas conhecido como “seu” Pôpa. Como era filho ilegítimo de um proprietário de terras  nuam época em que filhos ilegítimos não tinham direito a nada, ele sempre trabalhou nas vinhas do Douro e tinha um sonho de ter um cantinho no Douro para chamar de seu. Morreu jovem, antes de conseguir. Mas como todas as melhores coisas de Portugal, a história do sonho que já nasceu com o avô foi levado adiante pelos netos, que compraram o tão sonhado cadinho de terra e começaram a produzir vinhos ali.

E que “cadinho”, meus amigos. ?

A Quinta do Pôpa fica bem na linda estrada 222, subindo as encostas escarpadas até o topo. A estrada para subir de carro é ingreme e é para ser subida devagar, mas premia com uma vista linda por sobre o Douro.

Por ter começado com uma história tradicional mas ao mesmo tempo gerida por jovens, a Quinta do Pôpa tem um pé bem moderninho, explícito na logo, no tour pela vinícola (recomendadíssimo) e – minha parte preferida – nos rótulos.

Eu não posso negar que, como jornalista e profissional de marketing, sempre reparo numa proposta bem feita. E acho que a Quinta do Pôpa trabalha isso muito bem: há os vinhos clássicos e espetaculares (que arrebatam um prêmio aqui e ali) mas há também os vinhos que apenas se preocupam em ser gostosos e contar uma boa história!

E gente, confessem: quem nunca comprou um vinho só porque gostou do rótulo? E sendo assim, como não gostar de vinhos com nomes como “Hot Lips”, “In the Flesh” e (amo!!?), “The Grape Escape”?

Designers amarão. O resto, também!

O tom engraçadinho continua pelo tour, que inclui um mini museu com fotos antigas de como era o trabalho com as vinhas antigamente ali no Douro, uma visita às salas de envelhecimento do vinho e à adega.

De todos os tours vínicos que participei, a Quinta do Pôpa era o mais jovial de todos com certeza!

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Mas, de novo: a melhor parte de estar em uma vinícola sobre o Douro e ver o Douro, e nesse quesito a Quinta do Pôpa explora o fator “mirante” e “selfies” com louvor: há terraços para ver os vinhos do lado de fora e, se o tempo permitir, a degustação e é feita com essa vista privilegiada também. Todas as fotos do Douro visto do alto, neste post, foram tiradas de lá! 🙂

Minha sugestão: Se você for ao Douro entre Abril e outubro, considere reservar um picnic (que é feito charmosamente na grama, entre as vinhas e com essa vista linda!) ou um almoço, que é disponível todos os meses do ano, mas apenas quando o tempo permite. Eu fui em outubro e infelizmente chovia muito, não deu para fazer nenhum dos dois – tive que me contentar só em tirar a foto! 🙁

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Organizando sua visita à Quinta do Pôpa:

Horário de funcionamento: 10:00 às 17:30

Tours e provas apenas com marcação prévia no email turismo@quintadopopa.com ou nesse formulário

Para quem vai de abril a outubro: experimente marcar o piquenique, é uma graça de programa a dois. Reservar e cotações nesse formulário.

Almoçar na Quinta do Pôpa: disponível todo ano, é possível escolher suas opções de almoço (com ou sem harmonização, se há pratos infantis, etc) e agendar com antecedência neste formulário.

Vindima (apenas setembro e outubro): A Quinta do Pôpa tem um programa espetacular que permite com que os visitantes possam participar do processo da vindima, colhendo uvas e até pisando no lagar – e inclui, terminar tudo com uma refeição excelente. Não tem dia certo, já que a vindima varia de ano a ano, mas em geral acontece por alguns dias entre setembro e outubro. Se tiver interesse em ir, registre-se nesse formulário para ser informado da data certa!

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Outros posts com ótimas informações sobre o Douro:

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O Dondeando Por Aí visitou as Quintas do Portal, do Aneto e do Pôpa a convite, assim como a estadia no Vintage House Hotel no Douro. Porém, a escolha dessas parcerias foi feita com base na excelente reputação dos estabelecimentos antes da visita e foi crucial para viabilizar o trabalho de pesquisa e redação desta rota. Todas as informações e opiniões dadas aqui são genuínas.

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Clarissa Donda
Sou jornalista e escritora. Eu criei esse blog como um hobby: a idéia era escrever sobre minhas viagens para não morrer de tédio durante a recuperação de um acidente de carro. Acabou que tanto o blog quanto as viagens mudaram a minha vida (várias vezes, aliás). Por isso, hoje eu escrevo para ajudar outras pessoas a encontrarem as viagens que vão inspirar elas também.

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