Só para já começar falando de cinema: quem já viu o filme O Auto da Compadecida, com Selton Mello e Matheus Nachtergaele deve se lembrar da primeira parte, antes mesmo dos primeiros 10 minutos de filme, em que os personagens Chicó e João Grilo percorrem a cidade de Taperoá divulgando uma versão antiga do filme “A Paixão de Cristo”. Em seguida, após mostrar as cenas do filme (antigo que só), a câmera passeia silenciosa, mostrando os olhos atentos, concentrados, transportados no enredo, das pessoas do público.

Acho que ali o Guel Arraes conseguiu captar o mais bacana de um filme: a película mais importante é outra. O que conta é o que fica na retina.

Foi exatamente essa cena, de uma enorme e muda sensibilidade, que me veio à cabeça quando eu soube do projeto Cinema no Rio São Francisco, que já rola desde 2004 e percorre todo o rio (talvez o mais emblemático e cheio de história do nosso país) com o objetivo – sublime – de democratizar a cultura para as comunidades ribeirinhas.

Em outras palavras: cinema de graça para a galera.

Crédito da Foto: André Fossati

E porque a iniciativa é tão bacana? Eles percorrem 13 comunidades, exibindo filmes (entre eles, os famosos “O Palhaço“, com Selton Mello e Paulo José, e “A Professora Muito Maluquinha“, com a Paola Oliveira) para crianças, jovens, adultos e idosos, muitos dos quais nunca viram um filme na vida.

Acontecem aí dois espetáculos. O primeiro é na tela  (em que não importam as circunstâncias, ela sempre é capaz de transformar a luz do projetor em história e mágica). O segundo acontece no público: o encantamento, a surpresa, a emoção… Coisas de filme mesmo.

Crédito: André Fossati

Mas nem tudo é só pipoca: existem jornalistas, antropólogas e equipes de cinema que acompanham o projeto, cuja proposta não é só trazer o cinema até estes povoados, mas também trazer essas pessoas para o cinema. Para dentro do filme, mais especificamente: parte da equipe é responsável por produzir um documentário sobre a própria população, seus costumes, cultura, e através desse trabalho resgatar essa identidade escondida nos rincões do nosso Brasil. E depois, claro, trazer depois pro cinema daqui, para a gente assistir também.

Considerando que, no que depender do cenário, o documentário já está com a beleza 100% garantida.

Crédito da Foto: André Fossati

Eu não fui. Fiquei aguada e embasbacada daqui, admirando. E não contaria para vocês se não valesse a pena.

Por isso indico as seguintes fontes, para saber mais sobre o Projeto: tanto pelo blog oficial quanto pelos blogueiros convidados que estiveram lá e contam tudo como foi (com muita sensibilidade e fotos sensacionais): Janaína Calaça do Blog Jeguiando (todos os posts sobre o projeto aqui) e Pedro Serra do Blog Sem Destino. Para ler e navegar com o prazer de quem vê um bom filme!

E ano que vem o Projeto Cinema no Rio São Francisco continua. Porque navegar é preciso – e  cinema para acompanhar a pipoca nossa de cada dia, também.

Crédito de André Fossati

 

Comments

3 COMENTÁRIOS

  1. Dondinha, agradeço de coração por compartilhar no Dondeando este projeto, pelo qual desenvolvi tanto afeto. Apesar de ter lido bastante sobre o Cinema no Rio antes de embarcar na aventura, eu só tive noção da coisa toda nos dias em que estive lá. As histórias que ouvi, as cenas que presenciei, a alegria, a novidade que levávamos. E foi bacana ver as pessoas se reconhecendo na telona, vendo o quão rica é sua história… História essa que muitas, inclusive, desconheciam. Lindo projeto, lindos dias que passei. E em mim só restou saudade.

    Beijão,

    jana.

    • Oi, Cris! Essa iniciativa é no Rio São Francisco, que começa em Minas e vai seguindo até Alagoas, passando por 13 cidades. Já está na sua 7a. edição. Torcemos para que cresça, mas como toda ação social, precisa de incentivo e suporte.

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