Não sei vocês, mas eu sempre fui daquelas de querer sentar na janelinha.

Mesmo. Mas não no sentido da gíria, de quem chega no meio do bonde e quer se dar bem antes de todo mundo. Não. Tô falando no sentido literal mesmo.

Adoro uma janela bonita de trem, ônibus, para ficar vendo o caminho, e viajando sozinha na paisagem e nas minhas idéias.

E se você gosta de uma janelona como eu – especialmente se o lado de lá da vista é bonito também – e está de viagem marcada para Machu Picchu (que é a vista das vistas!!!!), eu recomendo que você sente na janelinha do trem na hora em que você estiver subindo para lá.

Especialmente se o trem em questão for o do Inca Rail.

Calma que explico.

Para quem vai para Machu Picchu partindo de Cusco, é preciso pegar um trem – e há vários pontos de onde o trem sai com destino a Águas Calientes (também chamada de Machu Picchu Pueblo), que é a cidadezinha mais perto das ruínas de Machu Picchu. Este post aqui explica tudinho!

E a empresa mais conhecida que faz este transporte é a Peru Rail (quem tem um post ótimo explicando como ir de trem com eles é o Sundaycooks. Dá uma lida aqui.)

Outra opção, claro, é subir a trilha inca, com 3 dias de caminhada e muito joelho para pouco oxigênio. Mas dizem que é uma experiência linda também.

Só que, recentemente, surgiu uma nova empresa a fazer esta rota também, que é a Inca Rail. E que já vou avisando, é um pouco mais cara – mas cujos trens tem aquele conceito de trens panorâmicos, muito comum na Europa.  E que, cá entre nós, é uma jogada de mestre: porque a região do Vale Sagrado dos Incas é bonita de doer e um trem assim faz todo o sentido.

Eu fiz esse roteiro pela Inca Rail agora em abril, em um destes trens bonitões deles – e conto tudo aqui, aproveitando para fazer um comparativo do trem que eu peguei quando vim aqui pela primeira vez, no saudoso verão de 2008.

Porque, gente, sério – digo, de coração, que vale a pena investir pelo menos no seu bilhete de ida no Inca Rail: a viagem deixa de ser viagem para ser uma experiência linda. É um passeio dentro de um passeio.

Como funciona

A má notícia: os trens da Inca Rail não saem de Cusco. Saem apenas de Ollantaytambo até Machu Picchu – ou seja, o trecho de Cusco até Ollanta (para os mais íntimos) tem que ser feito de carro.

A boa notícia: esse caminho de carro de Cusco a Ollantaytambo é lindo – um dos mais bonitos que eu já vi na vida!

Paisagem de Urubamba vista da estrada, já quase pertinho de chegar a Ollantaytambo.

Isso, penso eu, pode ser talvez a única desvantagem da Inca Rail em relação aos trens da Peru Rail, que possuem diversos horários saindo de Cusco (mas que na verdade é de Poroy, que é pertinho do centro de Cusco e é de lá que fica a estação onde saem os trens), além de Ollantaytambo. Mas, por outro lado, acho que é exatamente esta a sua vantagem: por ter sua saída em Ollanta, os trens são menos disputados e, em alta temporada, há mais chance de conseguir bilhetes disponíveis no trem. E para quem pensa em pegar o vagão da primeira classe – recomendadíssimo – aí a experiência é quase exclusiva. 🙂

Mas como eu chego a Ollantaytambo?

Ahá, tem uma dica esperta: você pode contratar, lá em Cusco, o Tour do Valle Sagrado, que é bem legal e que obrigatoriamente passa em Ollantaytambo. Daí, você prepara uma mochila pequena de roupas e leva junto com você no tour. Quando você chegar em Ollantaytambo, peça para descer e não volte direto para Cusco, fique por lá para pegar o trem do fim da tarde de Ollanta até Águas Calientes e pernoitar por lá. Você aproveita ainda mais o dia e o passeio!

Mas não esqueça (parte 1): já vá com seu bilhete de trem comprado de Ollanta até Águas Calientes, não deixe para comprar na hora – porque se você der azar e o trem esgotar, vai ficar na mão!

Mas não esqueça (parte 2): Combine o mesmo na hora de voltar – converse com a sua agência de turismo que te levar ao Valle dos Incas para te trazer de volta de Ollantaytambo, dois dias depois! 😛

E com tudo isso organizado, vamos à viagem! 🙂

Inca Rail – Primeira Classe

Eu já tinha dito, eu visitei Machu Picchu pela primeira vez em 2008, e na época eu fiz o trecho de Cusco a Águas Calientes a bordo do extinto trem Backpackers (que hoje corresponde ao Expedition, da Peru Rail, com a mesma proposta econômica mas aparentemente melhorado em comparação ao que eu tinha ido – apertado e de janelas pequenininhas.

Eu lembro nitidamente que, naquela época, as horas dentro do trem pareciam se arrastar. Ô viagem que nunca chegava. 🙁

Algo que foi bem diferente desta segunda vez. Eu ia a convite da TAM Linhas Aéreas e do Hotel Sumaq, e a parceria incluía fazer o trecho Ollantaytambo – Águas Calientes com a Inca Rail.

No vagão da primeira classe.

Que, vale dizer, é extremamente confortável, do tipo que tem poltronas em que a gente se afunda nelas, de tão gostoso que é. São duas poltronas a cada fileira de um lado, e uma poltrona do outro – tudo bem espaçoso e confortável, sem apertamentos. O vagão é climatizado e, à bordo, são servidos água, vinho, o famoso pisco sour e um almoço/jantar com pratos de alta gastronomia elaborados com ingredientes da região (quinoa, cordeiro, truta, vegetais típicos).

Isso tudo em pratos de encher os olhos.

“Com isso, fica até óbvio dizer que vale a pena viajar na Primeira Classe”, você pensaria. Pois é. Só que o que faz valer a pena a Primeira Classe do Inca Rail não é o que está na sua mesa.

É o que está do lado de lá da janela.

Os vagões da Primeira Classe da Inca Rail são equipados com janelões enormes e de um vidro estupidamente limpo – o que faz parecer que você está totalmente imerso na paisagem. São janelas largas e generosas na lateral e no teto, e almoçar ali parece estar vendo um filme rolando à nossa volta.

A queridíssima Verrô, que viajava com a gente, posando! 😛

Só que é melhor que filme: é vida real. Uma paisagem estupidamente linda a todo segundo. Sem parar.

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E se na viagem anterior eu não tirava os olhos do relógio, impaciente com aquele trem que nunca chegava, nessa eu ficava nervosa sem saber para que janela olhar, já que era tudo tão bonito. E rezando para a viagem demorar bastante.

Ah, e quando eu falei que as janelas do Inca Rail são de um cristalino impressionante, eu não quis dizer em sentido figurado. Era tanto que, quando eu estava lá, até me atrevi a brincar de fotografar a minha taça de vinho, que reproduzia como um espelho a paisagem do lado de fora da janela. 🙂

E sabe aquele negócio de “conceito de trem panorâmico” de que eu falei lá trás? Pois é: aqui isso é levado a sério. Tanto que toda a decoração interna dos vagões da Inca Rail é feita em tons pastéis, terrosos. É elegante, e muito – mas a idéia é que a decoração do vagão não concorra, em hipótese alguma, com a paisagem de fora.

Minha opinião: cheguei sem esperar muita coisa – no máximo, um trem chique com poltrona confortável e comida melhorzinha, como acontece na primeira classe de muito voo por aí. Saí maravilhada (e quase triste pela viagem ter acabado. Porque o outro trem demorou uma vida e esse foi rapidinho?) e super grata pela oportunidade de ter conhecido esse passeio.

Então, sério: se você tiver a oportunidade, invista no vagão da primeira classe da Inca Rail. É caro (US$ 150 por um único trecho se for bilhete só de ida, e US$ 135 por trecho se o bilhete for de ida e volta, ambos por pessoa), mas vale cada centavo e é uma experiência bem legal.

Inca Rail – Classe Executiva

Já a viagem de volta foi feita na Classe Executiva, que não tem todo o chiquetê da Primeira Classe, e já são mais poltronas por vagão, o que diminui um pouco aquela sensação de espaço delicioso que a gente tinha na Primeira Classe. Mas as poltronas são confortáveis e as janelas também são generosas –  eu tive a oportunidade de também ir na janelinha. 🙂

Óbvio, algumas coisas são diferentes em relação à Primeira Classe: o serviço é atencioso e inclui a oferta de sucos e petiscos (uma porção de amêndoas e frutas secas na melhor linha saudável) e há música ambiente local, que torna a viagem mais agradável – embora, esta última, não sei se faz muita diferença. Afinal, é a volta de Machu Picchu, o dia esteve lindo e o vagão estava cheio de turistas: ou seja, tudo o que se ouvia ao fundo era o zumzum da galera conversando, animadíssima, trocando fotos e fazendo amizade. O vagão estava até barulhento com isso, o que não é um problema: como não esperar uma empolgação na volta de uma viagem a Machu Picchu?

Organizando sua viagem.

Os bilhetes da Inca Rail podem ser comprados no site deles – que tem serviço em português! 🙂 Mas ao chegar na página, selecione a opção “Inca Trem”.

Só fica um aviso: como a Primeira Classe é mais espaçosa, consequentemente tem menos assentos. Então, se você deseja reservar seu lugar e em alta temporada, faça a reserva com antecedência.

Dica: não vá até Ollantaytambo sem já ter sua passagem de trem comprada. Não aposte na sorte e compre com antecedência – melhor do que ter uma surpresa e acabar ficando na cidade sem ter como continuar a viagem!

Horários: são 4 horários de saída de Ollantaytambo e 4 horários para voltar. Este é o gráfico deles com os horários, mas vocês podem ver sempre os horários atualizados direto na página, aqui.

Sem título

Valores:

Primeira classe (ida e volta): US$ 270 (US$ 135 por trecho)

Executiva (ida e volta): Cada trecho varia entre US$ 47 e US$ 55, dependendo do horário.

Econômica (ida e volta no Machu Picchu Train): US$ 110 (US$ 55 por trecho).

Mas se for comprado apenas o bilhete unitário, só ida ou só volta, o valor pelo trecho fica mais caro: o bilhete de ida na Classe Econômica (Machu Picchu Train) e na Executiva custa US$ 70,00, sendo US$ 150 na Primeira Classe.

Você pode pesquisar todos os valores através do motor de reservas deles que fica no site!

Esta jornalista viajou ao Peru a convite da TAM Linhas Aéreas e do Sumaq Machu Picchu Hotel. O trecho de trem pela Inca Rail também foi uma cortesia.

[box] Links para te ajudar a organizar sua viagem:

Hotéis em Ollantaytambo | Hotéis em Cusco | Hotéis em Águas Calientes

E mais:

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Comments

12 COMENTÁRIOS

  1. Oi, Clarissa!
    Adorei seu relato! Bem detalhado e mastigadinho pra gente! 🙂
    Em dezembro de 2015, quero fazer o percurso até Machu Picchu saindo de Ollanta, depois de abandonar o tour do Valle Sagrado, mas tenho algumas dúvidas. O que dá tempo de visitar com o tour antes de abandoná-lo em Ollanta? Dá para ter certeza de que estaremos em Ollanta em tempo de pegar o trem do fim da tarde?
    Obrigada e parabéns pelo relato!

    • Sarah, o ideal seria pegar o trem que saia no horário mais ao fim da tarde de Ollanta, em direção a Aguas Calientes. Acho que depois de 16 horas é um bom horário.
      Sua visita em Ollanta vai ser corrida por causa do trem – tem umas ruínas na cidade bem interessantes de se ver, várias lojinhas, e fora que Ollanta tem um astral muito bom, com paisagens lindas que mereciam ficar um tempo a mais. Se você for com o tour e de lá pegar o trem direto, pode ser que você não tenha tempo de ver as ruínas (eu não tive, da segunda vez que fui e que fiz exatamente isso). Minha sugestão seria ir direto do tour para pegar o trem (para não ter erro) e deixar para conhecer melhor Ollanta na volta: na hora que você voltar de Águas Callientes para Ollanta, se tiver tempo, pegar o trem com um intervalo maior, para poder passear mais um pouquinho pela cidade.

  2. Ola Clarissa,

    O seu relato é ótimo, com informações muito interessantes.
    Apenas uma observação, estou indo para Cusco em Setembro e já comprei o ticket da Peru Rail.

    Não tive nenhum contratempo em realizar a compra pelo site, no entanto, por questões de segurança, eles não permitem a impressão do ticket pelo site, ao final da compra, tem uma relação de lugares que você precisa apresentar o código da compra, identificação e o cartão de credito que utilizou para a compra para retirar o ticket.

    Além das próprias estações, os lugares de retirada incluem o aeroporto de Lima e centro de Cusco.

  3. Oi, Clarissa!
    Eu adorei seu post, de verdade. Já procurei em diversos sites a questão de trens que vão para Machu Picchu, e esse aqui com certeza foi o melhor que já li!
    Estou planejando uma viajem agora em dezembro com a minha família pra lá (na verdade ainda não decidimos entre dezembro ou janeiro) e estou super empolgada!
    Mas eu tenho uma pergunta: por acaso você já viajou com a outra empresa, sem ser a Inca Rail? É porque não sei se teria como nós irmos para Ollanta, já que ficaríamos só vagando por Cusco e Machu Picchu, mesmo. E se você já tiver viajado, valeu tanto a pena quanto ir com a Inca?
    Muito obrigada! 🙂

  4. Clarissa, adorei seu blog, foram as melhores dicas que peguei sobre o Peru disponivel na internet.

    Gosteria de saber como funciona essa logistica de sair de Cusco, fazer o passeio para o Vale Sabrado e aproveitar a “carona” para pegar o trem para Aguas Calientes.Voce pode explicar melhor? E na volta? como faço para já pegar a volta paga (combinar com a empresa de turismo) de me pegar na estacao e voltarmos para Cusco Outra dúvida, só temos essa opcao de transporte até aguas calientes? Achei um pouco caro o valor de ida e volta. Voce sabe se tem outra opcao?

    Obrigada pela ajuda!

    • Oi, Karime! Obrigada pela visita e pelo comentário! 🙂
      Então: eu expliquei melhor a logística Cusco + Valle Sagrado até Águas através desse post aqui, em que “esmiuço” as opções existentes: http://www.dondeandoporai.com.br/como-ir-para-machu-picchu-3-opcoes-detalhadas-partindo-de-cusco/

      Veja se te ajuda! 🙂
      Acho que, dependendo da agência com quem você contratar o passeio para Águas Calientes, você pode já deixar combinado de voltar com eles um dia depois. Muita gente faz isso! 🙂
      Só daria a dica de ficar de olho nos horários: por exemplo, comprar com antecedência o ticket de trem de Ollanta para Águas para o fim da tarde, ou a partir de umas 4 horas, em que você tem tempo de chegar em Ollanta pela agência e passear com calma, sem correria. O mesmo para a volta!
      Sim, para chegar a Águas Calientes só há duas opções: de trem ou a pé, pela Trilha Inca! 🙂 Por isso que o bilhete de trem é mais salgado mesmo: há uma limitação física de lugares e muitos turistas querendo ir – a tal questão da oferta e da demanda! 🙂 Por isso é recomendado reservar com antecedência (se deixar para última hora há uma enorme chance de não achar vaga – na primeira vez que fui quase cometi esse erro, porque deixei para comprar meio em cima e só consegui vaga para 4 dias depois!).
      PS: outra coisa: veja se consegue comprar com a mesma empresa de trem o bilhete de ida e volta – isso barateia muito mais do que comprar “uma perna só”.
      Mas no post tem explicadinho outras opções de fazer o trecho Cusco – Águas Calientes – dá para ir de carro de Cusco a Ollantaytambo, mas só até aí!

      Espero ter ajudado! 🙂

  5. Olá Clarissa, boa tarde!
    Estou indo a Cusco/Machu Pichu agora em Junho e gostaria que você me ajudasse, se possível!
    Estou contratando os passeios pelo Vale Sagrado e me surgiu uma dúvida!
    Vou sair de Cusco para fazer o passeio pelo Vale Sagrado e no segundo dia de passeio, que será por Chinchero, Moray, Maras e a Fortaleza de Ollantaytambo.
    Tenho duas opções: dormir em Ollanta e ir no dia seguinte cedinho para Águas Calientes, ou terminar o passeio em Ollanta e pegar o trem direto para Águas Calientes.
    Me indicaram dormir em Ollanta. O que me preocupa é: terei o que fazer em Ollanta e AC no dia seguinte?
    Porque nesse caso, precisarei ir pra AC, pernoitar lá para subir a Machu Pichu no dia seguinte logo cedo para ver o nascer do sol.
    Estou nessa maior dúvida! Podes me ajudar?
    Beijos e obrigada pela atenção desde já!

  6. Olá Clarissa….muitíssimo boa tuas dicas.Só fiquei com dúvida em relação as malas,levo junto p o passeio no Vale Sagrado /Ollanta/Águas Calientes?ou deixo em Cusco,visto de retornarei lá
    Abç

    • Oi, Dania, tudo bem?

      Então, eu deixei as minhas da primeira vez que fui no meu hotel em que eu fiquei em Cusco, e fui para o Vale Sagrado e Águas Calientes apenas com uma mochila menor. Muitos hotéis aceitam isso, e você já pod eperguntar sobre isso na hora que for fazer a reserva!

      Espero ter ajudado!

      Um abraço,

      Clarissa

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